Este é um momento marcante para a cidade: o Rio guina... para o futuro!
Nenhum carioca ficará incólume, nenhum carioca pode ficar indiferente.
Esta é também uma das minhas formas de participar: sugerir caminhos para o Rio.
.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Linha N, o segredo do sucesso do Metrô



Em uma meio que repentina mudança (será o início do fim de um tempo de trevas?...), o governo do estado do Rio de Janeiro, finalmente, anuncia novos estudos e planos para o Metrô do Rio.
E, num ato "generoso" de democratização das informações, convidou um grupo de ativistas do tema (que há muito faziam esta solicitação) para uma visita a um dos seus "segredos", a (futura) estação Carioca da Linha 2 (que está praticamente pronta e fica abaixo da super utilizada estação Carioca da Linha 1).

A visita e a correspondente "reportagem", furando todos os jornais do Rio, está na postagem "Entramos na Plataforma Fantasma" do blog "Metrô do Rio (não oficial)" e foi feita por Atílio Flegner, do "Movimento Linha 4 Que o Rio Precisa"; Luiz Henrique Barroso, do perfil "Aguardando Liberação do Tráfego à Frente" e Miguel Gonzalez, do blog "Metrô do Rio (não oficial)".


Certamente, a complementação da Linha 2 aliviará o sufoco provocado pela solução  "esperta" (para a concessionária...) criada pelo governo Sergio Cabral, a de "emendar" as Linhas 1 e 2, ligando São Cristóvão à Central. A falsa solução levou a um "engarrafamento em marcha lenta" no trecho Central – Botafogo, e também a um grande perigo para o sistema e para os usuários.
 
Em suma, completar a Linha 2 (com estações no Sambódromo e Praça Cruz Vermelha) e levá-la até a Praça XV (para futura travessia da baía, até Niterói e São Gonçalo) certamente é fundamental!...

Só que é preciso pensar adiante. E aí surgem algumas questões...   

Parece assustador que, da Linha 4 (altamente necessária, vindo da Gávea, pelo Jardim Botânico, Humaitá, Laranjeiras), insistam (como no projeto original) que a linha termine na estação Carioca, como já andou sendo falado por autoridades... 
Proposta do Movimento Linha 4
É uma solução muito ruim... 
Primeiro, porque a estação Carioca não só necessitaria da construção de mais um andar, como viraria, por falta de novas opções de destino no Centro, um formigueiro humano!...
Depois, porque não há sentido em mais um ponto terminal,  um "fim de linha", no Centro, como é a estação dos trens da Central, por razões históricas... 
Há demandas para todos os lados e as linhas transversais são sempre melhores, ainda mais no Rio, cuja configuração se assemelha ao encontro dos bicos de dois funis (Zonas Norte e Sul), que se juntam no Centro...
 

Outro problema é que os planos citados mantêm a "eterna" ausência de ligação, através do Metrô, para os aeroportos e a rodoviária... 
Há, esquecido, o projeto da Linha 5 (que vai de um aeroporto ao outro, e é também um "fim de linha"...), uma ideia estranha, que deixa de fora (com exceção do Centro) as áreas de origem de tráfego de passageiros.
.
Assim, em suma, esta é uma boa oportunidade para relembrar a Linha N, uma ideia lançada neste blog. 
.
Linha N - trecho entre Glória e Rodoviária
Simplificando, a proposta da Linha N é a unificação do projeto da Linha 4 com o da Linha 5, transformados em uma única linha, a Linha N (de Nova).
Assim, a Linha 4 cruzaria a atual "Linha 1 & 2" na Estação Glória, onde há espaço para áreas de manobra e manutenção. 
.
Conexões da Linha N
A partir daí, a Linha N passaria pelo aeroporto Santos Dumont, cruzando a Linha 2 na Praça XV. Aproveitando atual o túnel Rio 450 (trocando o carro pelo Metrô!...), a Linha N seguiria pela Praça Mauá e pelo Porto "Maravilha" (com seus muitos arranha-céus...) até a Rodoviária. 
Daí, passaria por São Cristóvão e Ilha do Fundão, para chegar ao Galeão/Tom Jobim, se estendendo ainda para a Ilha do Governador.
Cabem mais saídas e conexões nesta Linha N, em especial em São Cristóvão, na direção de Triagem, e elas estão lá no blog...

.
Este é o segredo do sucesso do Metrô: ousar criar a Linha N, para conectar melhor a cidade. 
Se continuarem com uma mobilidade tipo "fim de linha", só conseguirão embolar de vez o Centro e, mais uma vez, subutilizar o Metrô.
.
.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Rio, Cidade Vendida



O Rio de Janeiro, dita Cidade Maravilhosa, passou a ser Cidade Partida e agora é o Rio de Janeiro, Cidade Vendida
É a forma mais simples e direta de descrevê-la: Rio, Cidade Vendida.  
.
A face humana do Rio: o Centro da cidade visto do Morro dos Prazeres.
O Brasil vive momentos de alta efervescência (o que, reconheçamos, é melhor do que a pasmaceira acomodada da maior parte da nossa História...), mas toda esta indignação – que trouxe às ruas, campo de luta, e às redes sociais, boteco virtual, as mais variadas manifestações – resultou em poucas mudanças concretas. Ironicamente, pela multiplicidade de urgências do país, toda esta agitação tem ajudado a manter enrijecidas estruturas sociais, ao servir de cortina de fumaça (de gás lacrimogênio...) para velhas (mas sempre renovadas...) práticas políticas e econômicas, as que sustentam os poderosos locais e os seus associados internacionais em sua “eterna” exploração dos recursos (e nativos) locais. Enquanto os donos daqui mantém as suas posições (o Maranhão na Idade Média etc), com o luxuoso auxílio das mídias, os de fora têm ampliado ("é a globalização, estúpido!") as suas carteiras de investimentos.
No Rio, sinal verde para os pedágios e outras concessões. Foto Guina Ramos
Entre outros vantajosos negócios no Brasil, das plantations ao pré-sal, crescem (os olhos sobre) os investimentos imobiliários, agora altamente concentrados em projetos de “revitalização” urbana sempre deslumbrantes e tidos como miliardários, em torno de "ícones culturais" bancados pelo Estado. Tratando a cidade como se não fosse orgânica, posto que é habitada por seres humanos, os projetos são, objetivamente, grandes negócios, grandes peças de um jogo de tabuleiro, talvez o Monopólio...
Foi assim que a cidade do Rio de Janeiro  (e sua região metropolitana), muito bem embalada pela própria natureza, tornou-se produto em oferta global, mercadoria de luxo na vitrine do mundo, pastiche tropical de uma Barcelona idealizada pelos interesses...
Afinal, nossos políticos são porta-vozes, agenciadores ou meros gerentes desses negócios?... Na prática, assumem qualquer papel, dado que o papel que os estimula, embora verde, é maduro e farto... E são ativos, derrubando e desalojando o que e quem lhes atrapalha, que os compradores estão cobrando e os vendilhões têm que entregar logo (“Derruba rápido este elevado!”) e de forma segura (“O Brasil precisa de leis contra o terrorismo!”) o produto combinado.

Baía da Guanabara e Piscinão de Ramos
Foto Mario Moscatelli  - Fev/2014
A ironia é que uma venda pode atrapalhar outra... A situação das lagoas e da baía da Guanabara é deprimente, como toda hora demonstra o biólogo Mario Moscatelli, em suas severas denúncias, e isto porque, como ele diz, há um tipo de venda, no Rio de Janeiro, que é uma “indústria da degradação”, através de “empréstimos bilionários onde, sem fiscalização e com a prevaricação comendo solta, o dinheiro serve para tudo, menos para o que veio emprestado”. E, mesmo assim, não é que venderam o Rio de Janeiro como o local ideal para os Jogos Olímpicos de 2016, com “todos os esportes em uma cidade só”, inclusive os náuticos nas águas poluídas da baía da Guanabara?...
Temos, aqui no Rio, o falsamente ingênuo “método patético” do governo municipal de Paes (que reinventa o caos) e a ardilosa estratégia de fragmentação metropolitana do governo estadual de Cabral (que está na raiz dos protestos). São dinâmicas capitaneadas por políticos que, embora com índices de popularidade no fundo do poço, continuam no alto de seus cargos, insistindo nos projetos de seus patrocinadores, sem risco de impedimento por parte dos cooptados legislativos e judiciários locais.
Esta resiliência dos poderosos da vez parece não ser afetada pela grita generalizada das manifestações de rua, nem pelas críticas diretas dos comentaristas abalizados, e há muitos exemplos disso. 
Panamá City, prédios no Centro - foto Carlos Morales Hendry

A professora Sonia Rabello, cuidadosa com a legislação, trouxe à pauta, em seu blog, o que acontece no Panamá (e pode acontecer aqui), a desmesurada proliferação de arranha-céus. A arquiteta Andréa Albuquerque G. Redondo, atenta observadora dos desmandos urbanos, lista extenso rol das arbitrariedades do prefeito. Outros amigos de consciência, Fábio Tergolino, Cláudia Madureira, Alcebíades Fonseca, e muitos outros, participam desta reflexão coletiva, através de seus comentários. E, no entanto, nada muda...
Reprodução do Facebook
Louvo (e deixo com eles) a cotidiana crítica, que sustenta uma possível esperança, e fico imaginando (e me arrepio!) como as coisas ficarão, no Rio e no mundo, se tudo continuar como está... 
Sendo o futuro um horizonte de possibilidades, publiquei algumas suposições no conto “Memórias Póstumas do Rio de Janeiro” (pedindo a bênção ao premonitório Machado de Assis), do livro “2112 ...é o fim!” (encontre-o aqui), que deixo como estímulo à reflexão de quem não quer fechar os olhos para o que virá:
“Eis que uma onda internacional se espalha pelo país: acontece a Copa!... Pena que certas ondas sejam assim nebulosas... Também teve o tempo, apertando o clima, o verão se espalhando por todo o ano. E perdas pesadas, em roubos de monta, em ganhos espertos. A chapa cada vez mais quente. Armações em telas, mais fortes que redes. Eu, tudo dominado, rendido, perdi...”
(...)
“A Olimpíada durou nada, não mais que uns dias. Talvez tenha me faltado saco para seguir todas as bolas. Ou não haja mesmo espírito esportivo que aguente tal variedade de desperdício de tempo... Valeu para uns, e também nisso não há novidades. Ganharam mais, do ouro, empreiteiras, construtoras, imobiliárias... Da prata, seus políticos particulares, em lançamentos secretos. Do bronze, quem foi à praia e não deu a ela a menor bola...”
(...)
“Dei-me conta de que, de pedra a concreto, mudaram as arcadas da boca banguela da baía da Guanabara (já a aparência, em nada), esta ranzinzice de Lévi-Strauss, por Caetano, em música, relembrada. Além dos pontos que louva, Pão de Açúcar, Corcovado, agora eu tinha implantes, uma protética arquitetura de isolados prédios em terrenos de ponta, que me foram espetados, os Towers & Trades & Trumps, monumentais dentes artificiais a me morder a histórica paisagem.”
E, se a coisa continuar assim, por aí afora e adiante, para o Rio, Cidade Vendida, parece mesmo que (se não antes...), “2112 ...é o fim!”...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Perimetral: rápido como quem rouba...



[E nem vou perguntar onde estão as vigas desaparecidas...]


Não é altamente estranha a pressa com que a prefeitura do Rio se dispõe a implodir a Perimetral?... Afinal, se querem substituí-la por outra via expressa, por que não construir antes a via expressa?... A parte principal desta via, um túnel sob o Centro do Rio, ainda demora a ficar pronto: por que destruir a Perimetral antes disso?...

Em 24/11/2011, falando a O Globo, o prefeito Eduardo Paes disse: “Derrubar a Perimetral é a última coisa que vai acontecer, depois que tivermos o túnel como alternativa.”

No entanto, a partir daí fizeram tudo para demolir a Perimetral, e já!... 
Está sendo aplicada a manjadíssima “política do fato consumado”... Enquanto isto, a consciência geral é muito lerda... A proximidade do desastre está acordando a população, que tem se manifestado, ainda que esparsamente, e é mais um motivo de urgência para o prefeito, que não quer perder sua “janela de oportunidade”...

O túnel da Via Expressa está longe de ser concluído, a prefeitura reconhece que as Vias Binárias são para acesso interno ao Porto "Maravilha" (não atendem a um fluxo rápido e intenso) e faltam três anos para as míticas Olimpíadas (que servem de desculpa para tudo, disse ele): então, por que começar a destruição da Perimetral antes de construir a substituta?... Por que a pressa?...

Por uma razão simples: ninguém garante que dará certo...

As desculpas surgirão (“houve erros de projeto”), a culpa será jogada sobre os cariocas (“o Porto Maravilha não é área de passagem”) e logo outras soluções mágicas (para felicidade das mesmas empresas) serão efetivadas... Talvez seja este o propósito fundamental: destruir para construir. E destruir de novo para construir de novo. E que haja sempre um novo projeto a ser pago pelos cofres públicos...

Será que o Porto "Maravilha" não é, em si, um “erro de projeto”?... Ou melhor, será que o Porto "Maravilha" não é, todo ele, um erro?...
Há gente que pensa que estas mudanças urbanas têm razões técnicas... Não percebem (será mesmo?...) que a técnica está sempre a serviço do poder, o da política ou o dos negócios... A governança local pelo “método patético” é um bom exemplo.

Outros, ao apoiar a derrubada da Perimetral, dão como motivação (ou desculpa?) a evolução do “design urbano” (que é uma versão “maquiada” das "razões técnicas"), como se a cidade fosse um mero objeto (muito valioso...). É um conceito que está na moda e a toda hora vira notícia em O Globo, que promove eventos e seminários, indicação do sentido que tem. Na busca de “consenso”, os divulgadores e propagandistas dos projetos “revitalizadores” se esforçam para ressignificar conceitos, como na recente exaltação à “gentrificação” do Rio de Janeiro...

Cabe aqui citar a prof. Otília Arantes, in A Cidade do Pensamento Único: Desmanchando Consensos : “Associados aos políticos, ao grande capital e aos promotores culturais, os planejadores urbanos, agora planejadores-empreendedores, tornaram-se peças-chave dessa dinâmica. Esse modelo de mão única, que passa invariavelmente pela gentrificação de áreas urbanas "degradadas" para torná-las novamente atraentes ao grande capital através de mega-equipamentos culturais, tem dupla origem, americana (Nova-York) e européia (a Paris do Beaubourg), atingindo seu ápice de popularidade e marketing em Barcelona, e difundindo-se pela Europa nas experiências de Bilbao, Lisboa e Berlim.”



Dentro do “design urbano” entram os famosos “prédios-âncora”, como seriam, no Porto “Maravilha”, os museus do Mar e do Amanhã, acrescidos de esplanadas, cercadas de prédios longilíneos, por onde passam bondinhos estilizados (igualzinho às mais modernas cidades européias...), aquele tipo de urbanização que dá lindos desenhos ilustrativos. Pena que sobre o transeunte, mero detalhe na paisagem, um vultozinho na imagem da ampla praça vazia, baterá um sol (ou chuva) tropical, carioca e brasileiro, de rachar a cuca de qualquer um (não dos designers, que não vivenciarão o projeto concreto)...

Ora, se haverá uma esplanada junto à estação de desembarque da Praça Mauá, dos museus do Mar e do Amanhã e do entorno do morro de São Bento junto à baía, e se este espaço é para o pedestre, para o turista, então por que não aproveitar a Perimetral como uma fonte de ideias (e de sombras) frescas?...

Se fizeram um jardim sobre um elevado, o HighLine, em Nova York (veja o vídeo), por que não fazer, no Rio, um parque por baixo da Perimetral, bem conservado (dinheiro não falta...), iluminado à noite, na sombra de dia?...

A Rodrigues Alves, vindo da Rodoviária, mergulhará no túnel e, a partir deste trecho (Armazém 8), e não teremos mais veículos, apenas, a passeio, o VLT... Com a Perimetral sobre eles, os pedestres estarão protegidos e acolhidos. 
Pois, sem recursos oficiais, sem maiores projetos, isto já aconteceu na Praça XV: a criatividade popular fez surgir a Feira de Antiguidade, aos sábados e, aos poucos, uma espontânea feira de produtos e serviços populares, que atende a quem pega as Barcas. 

O cúmulo da ironia é que a Perimetral, uma via expressa para carros, será substituída por um túnel, em que passará outra via expressa... para os mesmos carros!...

Ora, se o prefeito e o governador do Rio se entendem tão bem, se estão imbuídos do mais alto espírito público, por que eles não propõem (e são ideias que já foram postadas aqui) que passe por este túnel (em vez de três quilômetros de carros embutidos) um ramal do BRT TransBrasil ou, muito melhor, uma linha nova do Metrô (que nem em Curitiba o BRT dá mais conta)?...

Afinal, vem aí (aguentemos!...) a derrubada da Perimetral, atendendo fielmente à cartilha da modernização das cidades “internacionais”.
Em texto sobre a aplicação desta “cartilha” (Pátria, Empresa e Mercadoria - Notas sobre a estratégia discursiva do planejamento estratégico urbano”), o prof. Carlos Vainer (IPPUR-UFRJ) afirma que, no Rio de Janeiro, “um consórcio empresarial e associações patronais, em parceria com a Prefeitura, conduziram o processo de maneira absolutamente autoritária e fechada à participação de segmentos de escassa relevância estratégica”. 
Sabemos bem disso, mas há mais... Vivemos uma versão cruel do velho provérbio “os cães ladram e a caravana passa”: nós, os cariocas, somos os cães, explorados por um insensível laboratório de “design urbano”...
Em suma, tudo já foi falado: o presente está dominado.
Mas, pergunto: que gosto terá este futuro mal passado?...